quinta-feira

DEPECHE MODE 24 ANOS DEPOIS














A CHUVA NÃO APAGOU A EUFORIA DOS FÃS NO SHOW DO DEPECHE MODE


Rozineide M Cruz



Que chuva que nada! Para os fiéis fãs da banda inglesa Depeche Mode, a terça, 27 de março, era o momento do reencontro 24 anos depois.
O cenário de primavera inglesa, chuva constante o dia todo, em nada atrapalhou e acabou sendo pano de fundo do momento histórico.
Estranho foi a mudança na configuração da Arena para o evento. O Allianz Parque tem capacidade para 45 mil pessoas no formato show. Para a apresentação do Depeche Mode esse espaço foi reduzido quase pela metade com a montagem do palco mais á frente. Contudo, não podemos afirmar que o show foi sold out. Há divergências entre fontes que dão como certo os 25 mil ingressos esgotados, outra como somente 24.700. Certo é que os fãs esgotaram mesmo foram as lágrimas e toda a energia derramada no Allianz Parque.
Se o público foi reduzido, o mesmo não se pode dizer da sua intensidade e emoção. Já passava das 21h30, 21h45 para ser exato, quando ao som de "Revolution" dos Beatles, o sistema de som da Arena prepara o público para o início da "Global Spirit Tour", única apresentação no Brasil, em São Paulo. Começar com Beatles já era prenúncio de que a noite seria um arraso. E foi. Afinal, mais uma banda da escola inglesa de rock, escolhia o Brasil, a "Terra da Garoa" Sampa, para encerrar sua turnê Sul Americana.








A ansiedade chega ao fim, o telão é ligado e exibe a arte dos pezinhos em movimento. É a deixa para a banda entrar no palco e ao som de "Going to Backards", faixa do décimo quarto álbum do Depeche Mode "Spirit" lançado em 2017, iniciar o show diante de um público ensandecido, aos berros, como se desabafassem pelos longos anos de espera.
Tudo contribuía para a noite perfeita, até mesmo a chuva dava sentido as letras pessimistas, intimistas  e soturnas compostas por Martin Gore (teclado, voz e guitarra). Um contraste com a batida irresistível dos samplers, bateria e a marcação do som tecnopop rock industrial do Depeche Mode que esquenta o público.
O show de pouco mais de 2 horas alternou momentos de euforia e transe. O setlist de 20 músicas, é uma pincelada entre sons do novo álbum "Spirit", como "Where's The Revolution", com outros de diversas fases do Depeche Mode. Tudo pensado para dar sentido ao show e não para ser a "parada de sucessos" com os maiores hits da banda. Isso justifica a falta de clássicos como "Just Can't Get Enough", "People ore People" e tantos outros que se escolhidos aleatoriamente, seria necessário um show de 3 a 4 horas de duração para comportar o setlist. A apresentação vai elevando o tom, começa com a empolgação, passa pela brisa e, caminha para explosão.










É fato que uma banda com 38 anos de estrada, discografia gigante com 14 álbuns de estúdio, 7 álbuns ao vivo, 53 singles e 10 compilações, não consiga agradar á todos num show de 2 horas. Em entrevistas concedidas ao longo da carreira, tanto o tecladista Andrew Fletcher como Martin Gore, o responsável pela formação do Depeche Mode, sempre frisaram que o importante é ter coerência entre álbum e sua apresentação ao vivo, seguir uma lógica. Em sua primeira entrevista à uma revista brasileira, em 1989, Fletcher disse que eles nunca pensaram em compor músicas para serem dançantes, na maioria não são, mas que tivessem melodia e fossem boas de ouvir em todos os cômodos da casa. O efeito contrário a isso ao vivo, soa estranho até hoje.
Essa filosofia do Depeche Mode está bem explícita na "Global Spirit Tour". As músicas seguem uma temática, a da reflexão política amparada no mais profundo pessimismo e teor obscuro. Um efeito causado pela atual política mundial, a eleição de Trump, o Brexit na Inglaterra e o separatismo religioso. O álbum mais focado é "Ultra" de 1997, seguido do novo "Spirit" e Violater de 1990. Outros como "Black Celebration" (1986), "Playing The Angel (2005), Music For The Masses (1987) das envolventes "Never Let Me Down Again" e "Strangelove", "Songs of Faith and Devotion" (1993) e, "Constrution Time Again" (1983) com "Everything Counts", a maior referência aos primeiros anos da banda.







Mas, não é só o som e a melodia do Depeche Mode que é envolvente. Seus integrantes são uma atração à parte. Andrew Fletcher é o caladão dos teclados, quase imóvel no fundo do palco. Martin Gore é o gênio compositor, tecladista e guitarrista com forte influência de Kraftwerk e Bryan Ferry, um back vocal de luxo, a segunda voz da banda que manda muito bem em seus momentos solos como "Home", "Insight" e, nessa turnê, na surpreendente versão acústica do clássico "Strangelove". Aliás, o único momento de descontentamento geral. Afinal, 24 anos depois, o público queria ouvir o clássico na voz de Dave Gahan. É difícil falar na voz do Depeche Mode sem parodiá-lo como um "Highlander". Dave Gahan, codinome talento, carisma, sensualidade, ultra-mega frontman, dança, usa bem os recursos teatrais por isso domina o palco como poucos, um maestro  que tem o público nas mãos e canta, canta muito. Barítono, dono de um potencial vocal mágico, mostrou estar em plena forma e completamente recuperado dos problemas com drogas pesadas (heroína) que quase o levaram a morte em 96 e, um câncer na bexiga em 2009, além de uma tentativa de suicídio. Tudo isso ficou pra trás. Agora, a ótima forma faz com que todos esqueçam que na linha de frente do Depeche Mode tem um cinquentão (55) que quebra geral no palco. Os músicos de apoio que acompanham a banda são outra atração. O dono das baquetas, o excelente baterista Christian Eigner, dá o tom da batida pulsante e elétrica e, na companhia do teclado e baixo de Peter Gordeno fecham a cozinha do Depeche Mode.










Além palco, um público de quase 25 mil encapuchados apaixonados de várias gerações. Da gata produzida para balada gótica do meio da semana até a grande massa de trintões, quarentões e contemporâneos grisalhos de banda pra lá de cinquentões, todos seduzidos pelo som irresistível da banda e ainda com energia sobrando para atender aos comandos de Gahan. Ele gentilmente agradeceu a presença do público embaixo de chuva e elogiou dizendo que os fãs paulistas são os melhores. É isso aí, vamos acreditar!
Enfim, o que se viu e ouviu foi um público totalmente ensandecido, emocionado entre o choro e o grito, entregue à banda pela qual esperaram por tanto tempo e, com certeza, compõe até hoje a trilha sonora de suas vidas.
Após a alucinógena "Never Let Me Down Again", vem a sequência do bis e, aos primeiros acordes de "Personal Jesus" a Arena vem abaixo em explosão e melancolia porque era o anúncio do final do show e do braço Sul Americano da "Global Spirit Tour". Agora a banda segue com a turnê para EUA, Canadá e depois retorna a Europa com agenda até julho.
Para os fãs brasileiros, após essa noite insana, tudo o que não se quer ouvir são as palavras hiato e esperar. Aos brazucas resta torcer para que os integrantes do Depeche Mode tenham sido "picados" pelo "spirit Brasil mode" que costuma arrastar as bandas de volta á terrinha. Por hora, em 2018, já entraram para lista dos inesquecíveis!
















Setlist do show no Allianz Parque em São Paulo, terça, 27 de março


1.  Going Backwards - "Spirit"
2.  It's No Good - "Ultra"
3.  Barrel Of A Gun - "Ultra"
4.  A Pain That I'm Used To (Jacques Lu Cont versão remix) - "Playing The Angel"
5.  Useless - "Ultra"
6.  Precious - "Playing The Angel"
7.  World In My Eyes - "Violator"
8.  Cover Me - "Spirit"
9.  Insight (piano acústico; single de Martin) -"Ultra"
10. Home - "Ultra"
11.  In Your Room - "Songs Of Faith And Devotion"
12. Where's The Revolution - "Spirit"
13. Everything Counts - "Construction Time Again"
14. Stripped - "Black Celebration"
15. Enjoy The Silence - "Violater"
16. Never Let Me Down Again - "Music For The Masses"
BIS
17. Strangelove (piano acústico; single de Martin) - "Music For The Masses"
18. Walking In My Shoes - "Songs Of Faith And Devotion"
19. A Question Of Time - "Black Celebration"
20. Personal Jesus - "Violater"














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