NA LAMA OU NO BREJO, QUEM
REINA É A DONZELA DE FERRO
Autódromo de Interlagos, São Paulo
15/03/09
Distância, escuridão, grama, lama, brejo, um vale e uma longa caminhada. Grades que caem e outras que dividem a pista, que deveria ser igual para todos, em simples e espaço ingresso vip inflacionado, já que a lama "estava em todos". Entrada confusa e saída catastrófica. As imagens arrebatadoras da galera alagada derrubando grades pra formar uma arquibancada improvisada numa subida á esquerda da pista dividia o sentimento entre desesperador e hilário. Esse era o cenário para o mega show do IRON MAIDEN. De curiosidade, como sempre, tinha aquelas que caem de balão num show de metal de calça branca e salto agulha! Fala sério!
Vamos ao show. Bem que no encerramento da turnê “Somewere Back in Time” poderia ter rolado maiores novidades, já que a propaganda foi enorme; o que podemos destacar é o palco que ficou maior, com um cenário mais elaborado, porém, já conhecido, inspirado nas pirâmides do Egito, sarcófagos de faraós, o cão ilustrando a música “Number of The Beast”, explosões de fogos no palco e o “Eddie” em versão gigantesca.
Tudo em versão ampliada, mas não muito diferente do que a banda apresentou na sua última passagem por aqui há um ano.
A interpretação dramática, a voz aguda cortante, por vezes ensandecida do “front man” Bruce Dickinson; o simpático e muito competente batera Nicko; o sincronismo afinadíssimo do “power trio” das guitarras Dave, Adrian e Janick, tudo igual e perfeito.
Mas e daí? Para os milhares de fãs da banda, isso não quer dizer nada. Fãs não, seguidores. Sim, porque para eles “Iron Maiden” não é uma simples banda de heavy metal, é paixão, religião, algo que contagia – isso eles garantem – até quem não gosta do gênero. E, como toda paixão é cega e, religião não se discute, a “Donzela de Ferro” não precisa inventar nada de novo pra se manter no topo e nem tem que provar mais nada pra ninguém.
Tudo certo, mas como dissemos no início: “Essa coluna era só pra falar do show”. Era. Mas não dá. Diante de fãs imensamente fieis, que compareceram em massa ao Autódromo de Interlagos neste domingo – cerca de 65.000 sessenta e cinco mil pessoas, maior público do Iron Maiden fora festivais que eles tenham participado –, não nos é possível fechar os olhos para tamanho desrespeito. É preciso que organizadores e produtores de mega shows internacionais e, até mesmo os realizados em locais menores, justifiquem o preço amargo dos ingressos – que nos últimos anos subiram numa escala inflacionária desenfreada – com atitudes. É preciso e justo dar á esse público uma estrutura decente que corresponda à necessidade de quem vai a um show. O Brasil já está na rota dos shows internacionais á mais de vinte anos; durante esse tempo tudo mudou. Veio a tecnologia e com ela a organização, a evolução. Não para o público. Aquele que na maioria paga com suor o seu ingresso. Woodstock foi maravilhoso! Mas, não estamos mais na era “hippie”, quando um show podia ser marcado numa fazenda e todos ficavam felizes debaixo de chuva e muita lama.
Será que é tão difícil implantar aqui o mesmo tratamento dado ao público lá fora? Cobertura total do piso da pista, boa sinalização, segurança dentro e fora do local bem esquematizada, preocupação com a higiene dos banheiros antes, principalmente durante e depois do show, cadeiras e arquibancadas numeradas, confortáveis e seguras; atenção com a locomoção e os horários – os locais precisam ser próximos de estacionamentos e ter fácil acesso ao transporte público; lembrando que, os shows deveriam terminar uma hora e meia antes da paralisação de trens, metrô e algumas linhas de ônibus, ou seja, antes da meia-noite. Isso é o mínimo. Não é justo criar áreas VIPS, PREMIUM, cobrar os tubos por um ingresso e o resultado ser “cosi cosi” ou seja, serviço meia boca.
Nos desculpem, mas será que uma mega cidade como São Paulo não tinha disponível nessa data um outro local para a realização do show que comportasse o mesmo público ou até mais, para alegria dos organizadores, e que fosse mais adequado para esse tipo de evento? Nada contra, mas Autódromo deve servir para corridas e eventos esportivos à luz do dia. Show nessa pista não rola. Com chuva então!
Pelo bem dos fãs e de todos os envolvidos em eventos desse porte, esperamos que organizadores e produtores deixem de visualizar somente os lucros – bons lucros, diga-se de passagem – e, pensem mais com carinho no público pagante que garante o espetáculo. Vamos pensar nisso?
Vida longa ao Iron!
E afinal, o que estava fazendo o Chitãozinho no show do Iron Maiden? Alguém viu? Se a moda pega...
THE END
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